quarta-feira, 2 de março de 2011

Investimentos do BNDES: R$3,3 TRILHÕES até 2014


Mapeamento do banco indica que os recursos vão puxar economia. País pode crescer até 40% acima da média mundial

               O investimento, em alta, será a principal locomotiva para o crescimento econômico do país nos próximos anos, segundo previu o BNDES. Um estudo do banco estatal de fomento, a ser divulgado hoje, mapeou investimentos que somarão R$1,6 trilhão entre 2011 e 2014. Isso equivale a uma alta de 62,5% sobre o que foi investido nos setores pesquisados no período entre 2006 e 2009, que somou R$978 bilhões. Como o levantamento é parcial - abrange 60% dos setores industriais, 95% da infraestrutura e 42% da construção civil, representando 48% dos investimentos do país - o banco estima que nos próximos quatro anos o investimento total no Brasil somará R$3,3 trilhões. Esse volume deve fazer com que a taxa de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) hoje na faixa de 19%, suba para 22,4% em 2014.
            Caso esses números se confirmem, o investimento ocupará, de certa maneira, o espaço que foi das exportações no começo da gestão Lula e do aumento do consumo interno nos últimos anos como principal indutor do crescimento econômico. Enquanto os investimentos crescerão na casa dos 10% ao ano, o consumo das famílias devem se expandir na faixa dos 4% nos próximos anos. Com isso, o país deverá crescer em média 5,8% ao ano entre 2010 e 2015, contra uma média de 3,5% da média mundial:

            Na margem, podemos dizer que o investimento puxará o crescimento, embora, claro, a expansão do consumo das famílias será muito importante. O fato importante é que, depois de 25 anos, teremos novamente a possibilidade de crescer de 30% a 40% acima da média mundial - afirmou Ernani Teixeira Torres Filho, superintendente da Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do BNDES.

            O levantamento do BNDES leva em conta não apenas os investimentos financiados pelo banco, mas informações diversas dos setores. Economistas da instituição fazem um filtro sobre investimentos anunciados e os que realmente têm chance de sair do papel, com base na experiência da instituição e dados de mercado. Neste levantamento, o BNDES incluiu setores na análise, como a indústria têxtil e o impacto da construção civil. E fez a estimativa para os setores que não entram na pesquisa, devido à dificuldade de colher informações, como o segmento de alimentos e bebidas e a construção civil familiar. Ao extrapolar os investimentos, o banco chegou aos R$3,3 trilhões.

            Este foi o levantamento mais difícil, pois há muita diferença entre os setores da economia e divergências entre empresas concorrentes. Diversos fatores pesam de forma diferente cada setor, como a alta do real, o aumento das importações, a elevação no preço das commodities e a dinâmica do mercado interno - afirmou Fernando Pimentel Puga, chefe do Departamento de Acompanhamento Econômico e Operações do banco.

Investimento em petróleo muda estrutura da economia

            Na indústria, o setor de petróleo e gás será o que mais vai ampliar os investimentos: serão R$378 bilhões até 2014, alta de 84% sobre o realizado entre 2006 e 2009. Para Ernani, essa alta, motivada pela exploração do petróleo do pré-sal, mudará a cara da economia brasileira:

            Essa é a maior mudança estrutural do país desde os anos 70 - afirmou.

            O setor químico também tende a aumentar fortemente os investimentos, que chegarão a R$40 bilhões no período. Puga afirma que isso é uma boa notícia, pois o setor, juntamente com eletroeletrônica, é o que mais contribui para o déficit da balança comercial brasileira:

            Este setor tende a ter uma importância cada vez maior, inclusive em outros setores, como têxtil. O Brasil sempre esteve atrasado e pode ser beneficiado com uma nova cadeia química.

            Ele afirmou que em outros setores as inseguranças sobre o futuro afetaram a previsão de investimentos, como na siderurgia. O levantamento também apontou que, em infraestrutura, o setor de telecomunicações tende a passar por uma fase de pequeno crescimento de investimentos por já ter vivido, no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, o período mais forte de expansão de rede. A partir de agora, o setor deve concentrar os investimentos em manutenção e novas tecnologias, que são menos intensivos em capital.

Infraestrutura pode receber 3% do PIB em 2014

            Puga lembrou que os investimentos em infraestrutura serão fortalecidos nos setores em que há maior déficit: saneamento, ferrovias e portos. Para ele, isso é fundamental para que o país viva um novo ciclo de ganhos de competitividade:

            Devemos passar de uma fase de 2% do PIB em investimentos em infraestrutura para algo na casa dos 3% em 2014. É um bom crescimento, embora abaixo dos países asiáticos, que investem entre 5% e 7% do PIB no setor - disse.

            O ganho de competitividade, na opinião de Ernani, terá de ser ampliado por toda a economia para que o crescimento do país ocorra. Ele cita como exemplo a situação do emprego.

            A Odebrecht, por exemplo, passou de 45 mil funcionários para 80 mil. O crescimento do emprego durante a crise global de 2009 foi impressionante. A partir de agora, as empresas não poderão contar com excesso de mão-de-obra para crescer, é necessário aumentar a produtividade - disse Ernani.

            Ele disse também que o país precisará ampliar outras fontes de financiamento para que estes investimentos. Ele afirmou que, entre 2004 e 2007, 50% dos investimentos eram oriundos de lucros retidos das empresas, 25% do BNDES - direta ou indiretamente - e 25% do mercado financeiro, incluindo o externo. Ele disse que o peso do BNDES passou de 30% em 2009 e que o país precisa de financiamento privado de longo prazo.
Fonte: O Globo

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